31 de dezembro de 2010

Repente

E ele repetia:
para o inferno eu iria;
se fosse levar-te ao céu.

Colocamos no papel;
Ela casou de véu;
Mas ele sofria.

Outras mulheres queria;
Claro que conseguia;
Mas demasiado pecou.

Foi pro inferno e ficou;
Sua mulher desgostou;
E no verão morreria.

E ele repetia:
para o inferno eu iria;
se fosse levar-te ao céu.

Mas o tempo passou;
Ele reencarnou;
só o amor que ficou.

Ela perdoou, alegria;
Amor noite e dia;
se vingou, o traia.

Descobriu, a matou;
pro inferno voltou;
por ser corno valente.

Ela no inferno ficou;
Mas o diabo o expulsou;
Seu chifre não quer concorrente.

30 de dezembro de 2010

O que me importa?

E agora Leitor? Que o ano acabou?
E mais historias juntou, ao meu livro pessoal ilegível.
Más lembranças sempre me remetem a idéia de que a vida continua, independentemente das intempéries sofridas, das soturnas manhãs seguidas por grisalhas tardes chorosas. As madrugadas de insônia e perturbação, onde a relação homem-violão se intensificava e a madeira fraca do guarda-roupa embutido testemunhava altos e baixos (como em uma das obras de Rimsky-Korsakov) de um ser humano como todos os outros. Tão igual por ser diferente.
Aos que me acompanharam durante o ano, vagueiem pelos seus pensamentos, caminhando em ovos e em nuvens ao mesmo tempo, sussurrando para o espelho onde acertou e onde errou, quando o silêncio oportuno foi bem colocado e quando as palavras enclausuraram-se por algum motivo, sendo soltas em sua inconveniência pela intolerância traindo a confiança e a paciência. Sejam promotores e defensores de si mesmos simultaneamente, deixando o júri popular ser composto pela razão, pela emoção, pela parcialidade e pela imparcialidade. Prometa-se melhorar, sobre crime de perjúrio e pena de auto repreensão. Chore, ria, relembre cada segundo dos seus dias. Esqueça tudo.
A vida pode ser um gole suave do melhor vinho, assim como pode ser o dia seguinte a uma garrafa de vodka ruim. Depende de você provar o sabor amargo de seu próprio coração, ou o aroma doce e delicado de suas palavras. Tenho diversificado minha dieta, porém apurando meu paladar a cada dia.
Incompleta mente, mente, metendo-se em minha existência. Minhas complexidades, minhas incompreensões, tudo obra tua! Completa-te de histórias, afazeres e conhecimento, pois certa vez ouvi dizer que, fosse a essência igual à aparência, não haveria ciência. Pergunto eu, incompleta mente, há essência sem aparência? Ou aparência sem essência? Antagonismos fazem do ser humano a evolução. O paradoxo é necessário para a mudança e o crescimento.
Perguntas surgem quando não há resposta.
Refletir é sublime. Relembrar é conhecer-se. Arrepender-se é ser pessimista demais até pra mim.
O que será do próximo ano?
Prefiro pensar no que será da próxima postagem, obrigado. Feliz ano novo, dessa "imcompletamente" satisfeita com o ano passado.

28 de dezembro de 2010

Acontece

Várias horas de insônia, poucas horas de sono. Alguns cigarros no cinzeiro, algumas garrafas em cima da mesa, uma em especial pela metade, já quente. Janelas trêmulas pelos carros que passam. Saudade. Um novo cigarro aceso. Fumaça entrando no peito antes do gole abrupto, saindo do peito logo depois da garrafa vazia posta na mesa. Suspiro de tristeza, solidão. Chega alguém. Corre jogar as garrafas fora e limpar sua sujeira antes de abrir a porta. A campainha toca de novo. Ele se apressa colocando as calças, já meio bêbado corre até a porta, batendo o joelho numa mesinha. Atende a porta, na esperança de ser ela. O vizinho pede que ele abaixe o som, ele se desculpa, entra, pega outra cerveja, coloca os fones de ouvido, e acende mais um cigarro.

Quem dera

Ela apareceu. Nua diferentemente do de costume. Brilhante, logo enchendo tudo de luz, de cor e de sentido. As guerras deram seu suspiro final. As flores seu respiro inicial. Inspirou-se amor pela Terra, beleza nos olhos de todas as criaturas.
O equilíbrio havia deslocara-se.
A noite imperava, imponente, sob o brilho da Lua, que poderosa como sempre, pediu ajuda ao Sol e criaram juntos duas Novas, sob o seu comando, para que fosse possível iluminar todo o planeta o tempo todo, em todo lugar por todo sempre.
"Necessária a abdicação dos desprazeres, para serem respeitados os prazeres em sua essência."
A Lua passou a ensinar o que havia sido esquecido há tempos pela humanidade. O que fazer com a vida. Fardo grande, dizia ela, porém leve.
Quando o Sol quis voltar, impor o dia e a volta dos tempos antigos, relembrando os ocidentais dos seus dois séculos de estupidez, tentando fazê-los voltar a eles, a Lua e suas Novas expulsaram-no. Imperava um novo estilo de vida, uma nova era, de amor, paz, solidariedade, e fidelidade ao que realmente sempre importou.
A noite sempre viveu ensinando como deveriam ser feitas as coisas. Mas o raiar do dia entorpecia a todos, que voltavam a fazer tudo errado, até mesmo na noite, salvo alguns poucos. Dos errantes e seu amor pela Lua renasceu a luz na noite eterna e a correção do que era incorrigível.

Quem dera fosse realmente culpa do Sol? Não interessa de quem é a culpa. Quem dera a Lua, ou qualquer um pudesse nos salvar...

Seguia o curso

Sobram dias no calendário. Começa-se a errar as contas, e questionar o tempo. Lapsos começavam a ser frequentes. Estranhamente, para os tantos que se reuniam no bar todo "dia" (já quase o dia todo), estava tudo normal, exceto pela saudade da Lua.
O luar os encantava. Cantavam melancólicas cantigas sobre o luar. Era tímida, em um quarto aparecia nua, como num ritual. Tirava as roupas esperava ser vista e as colocava de volta. Agora não mais o fazia. Tinha sumido. Onde estava?
Ela aguardava por todo esse tempo uma chance de mostrar seu brilho novamente. Estava de resguardo. O Sol quando foi embora disse que não deveria ela voltar. Mas ela queria! Ela queria corresponder o amor boêmio dos homens e mulheres fieis à ela! Chorou, por mais de uma vez.
O breu estava cansado de sua exposição àquelas luzes de postes, lanternas e velas. Lembrou de ter ouvido o choro da Lua, quando forte tempestade fez sangue escorrer durante manhãs e tardes, enquanto na noite tudo permanecia tranquilo. Sabia ser obra dela, sempre era justa e fiel.
Cada vez mais aquela exclusão diminuía. Todos eram obrigados a cumprir seu papel e quando alguém atrapalhava tal curso, por ganância ou egoísmo, ninguém sabe como, morria assim que chegava a noite. Por isso todos temiam a noite, saindo só das 7 às 19 horas, com exceção dos fieis à ela, e dos que aprendiam a amá-la.

Rituais chorosos

Passaram-se quarenta e oito horas (dois dias, se houvesse Sol) e seguia o ritual. Encontravam-se na porta, entravam, enxugavam uma garrafa de scotch, e choramingavam na chuva às 4 da madrugada, do lado de fora.

Não havia morrido o ciclo, apesar da ausência do Sol, da iminência do final dos tempos, rodava a grande roda da sociedade. Continuavam à sua margem aqueles que lá sempre estiveram. No horário no qual foi definida a “noite”, reuniam-se para os rituais mundanos quem sentia a falta dos velhos tempos.


“Ó Céu, faz voltar a nossa Lua,

Nosso amor não comedido,
Não faz da Luz dela só sua,
Seja solidário ao meu pedido.

Vá o Sol pela sombra volte não,
Aproveita que agora é só seu,
Céu manda ela que foi em vão,
Por não conhecer o amor meu.”

Só não encheriam de lágrimas as garrafas que tomavam, pois transbordariam garrafas nas lágrimas.

Conversa

Já madrugada era quando alguém chorava do lado de fora. Saiu, fechou as portas e caminhava pelo estacionamento até seu carro. Ouviu o choro, o triste resmungo que o apertou o peito.
- Que foi homem? – perguntou, já tirando as chaves do bolso;
- Eram veras as vis estórias estiradas sobre minha mesa, nos livros de minha avó.
- Ah! Fala sobre a eterna noite? Sobre a fuga do astro ingrato que nos deixou desamparado?
- Não! Não ligo para ele. Ele era só maldade, só alimento para essa maldade alheia. Fez como todos fariam, foi embora. Os iluminados faziam o mesmo, o dia só era voraz e triste, comida podre de moscas sujas.
- Então qual o motivo do choro?
- Ela! Ela se foi...
- É caso de mulher? Entre, sou barman, abrimos uma garrafa e resolvemos sua mazela!
Entraram no Bar. Ele pegou uma garrafa, wiskhy barato que rasgava a garganta. Seu preferido. Serviu ao homem já bêbado. E continuaram a conversa.

Rumores

Surgia na noite um rumor de não constelação posposta à madrugada. Varria a tarde, horas antes, uma soturna despedida melancólica, de alguém cansado, pulsando frágil e silenciosamente pela última vez.
Uma estarrecedora noite estava por vir. Um breu nunca visto antes, acompanhado de um gélido e pálido desconforto. Retirar-se-ia a Lua, cansada de brilhar por tanto tempo sem seu valor merecido. Os rumores eram vorazes, porém reais.
Veio então a escuridão. Não tão diferente da luz era ela. A cegueira só era por existência da visão. Reinava a fraqueza e a solidão. Por algumas horas assim permaneceu, imóvel, morta, fria.
Jamais foi tão vivo o Sol, que nunca mais foi visto e, longe dali, brilhava em outros céus. A Lua buscava o que fazer, até que notou um sussurro, quase uma oração, implorando por seu brilho...

O que mantém vivo mata aos poucos

O que mantém vivo mata aos poucos. Uma ironia? Um paradoxo? Uma ironia talvez, um paradoxo com certeza. Há certo tempo, sentia uma solidão mesmo quando cercado de pessoas, o que lhe trazia dúvidas, receios, medos, e uma eufórica alegria ao avistar pessoas de valor estimado.
Via pessoas se divertindo, tentava fazer o mesmo. Tomava um trago, dois, três, abria uma lata de cerveja, fazia uma dose de energético com pouco gelo e muita vodka, sentava-se e embriagava seus sentimentos sórdidos e fatídicos de tristeza, solidão e falta de amor próprio. Sentia certa vontade de morrer. Não entendia a razão de sua infame e desnecessária existência. Contraposto a isto, mostrava alegria sobrenatural quando embriagado e rodeado de “amigos” nos bares e festas. Mulheres, bebidas, música, mulheres, bebidas, cervejas, mulheres, vodka e mulheres até que a noite terminava. Ia para casa com aquele sentimento nostálgico. Deitava em sua cama com roupa da rua, sentia o mundo rodar, não pela embriaguez, mas pela falta de segurança e pelas incertezas de sua alma. Sentia de novo a vontade de morrer, mas virava-se para o lado e dormia, pois amanhã seria um novo dia, até a nova noite, para que mantivesse o seu ciclo... O ciclo o matava, mas o mantinha vivo. Não fossem as doses, a insalubre atitude de não ligar para o mundo a sua volta, as falsas relações amorosas de uma noite, uma semana no máximo, os amigos de bar, o sexo casual e tudo mais, não suportaria sua vida. Não. Havia também outros perigos em longo prazo. Seu fígado e pulmões se degradavam aos poucos pelos seus excessos. Perdera o fôlego, parara então de cuidar do próprio corpo, fazendo o mínimo para que as mulheres não perdessem o interesse.
Começou a perder o interesse por tudo aquilo e notar que seu problema não se resolveria com a fugacidade. Queria encará-lo, mesmo com medo, queria desembainhar sua espada e atacá-lo. No fundo sabia que seria vão. Sua força estava debilitada.
Pediu ajuda, para amigos de verdade, não os da alegria, os amigos de tristeza e de toda hora.
Voltou ao seu problema e faceou-o. Entendeu que poderia vencê-lo. Luta até hoje e não desiste de maneira alguma. Afinal, o que o mata ao mesmo tempo mantém vivo.

27 de dezembro de 2010

Beleza?


Beleza. Diante da parcialidade inerente ao meu ser, refleti sobre esta palavra.
Esta foto a cima, tirada por mim, do jardim da minha progenitora querida, mostra o que para mim é belo. Um botão de rosa quase desabrochando. Como de costume, fiquei algum tempo olhando para a foto na tela do computador.
Não é belo aquilo que tem certo amor embutido? Para mim a mais bela mulher é minha namorada, o mais belo jardim, o da minha mãe, as flores dela, por outro lado são lindas, por possuírem um cuidado incrível, semelhante ao meu por minha namorada. Toda beleza se resume ao amor e o amor de certa forma pode ser resumido pela beleza.
Caminhei pela cidade, notei que falta amor em alguns lugares dela. Ouvi rádio enquanto fazia musculação, falta certo amor nas músicas. Vi a feiúra de perto. A beleza da alma, a beleza das flores, do céu, do mar e até a minha própria. Tudo se apaga se não há amor.