26 de fevereiro de 2011

O frio

Sempre tentei entender o motivo pelo qual apaixonar-se muitas vezes acompanha um sentimento físico semelhante ao de descer uma ladeira. A sensação casual chamada de "frio na barriga", o resfriamento do abdome.
O tremer das mãos, o coração disparado, o primeiro beijo, a timidez que esvai-se ao passar do tempo, a vontade de estar por perto...
Qual a razão e o sentido de tal sentimento ter reações físicas extremamente parecidas com o medo, ou a descarga de adrenalina de um susto, por exemplo?
Para mim parece bastante óbvio. Há vulnerabilidade, riscos, inseguranças, incertezas. Comparo apaixonar-se a entrar em uma caverna escura com um palito de fósforo. A cada segmento adentrado, cada passo percorrido na escuridão, encontram-se gravetos que podem, ou não, servir para alimentar o fogo, diminuindo o breu na caverna. Explorar a caverna é algo que poucos corajosos fazem, muitas vezes errando os caminhos por simples e pura inexperiência.
Iluminar. Não há prazer semelhante. As dificuldades se apagam, o frio, o medo e a fome se vão. Ficam, com uma pitada de ironia, algumas lembranças ruins da escuridão, além da chance de contemplar o que era inexplorado até então.
Sempre tentei entender o motivo pelo qual apaixonar-se muitas vezes acompanha um sentimento físico semelhante ao de descer uma ladeira. A sensação casual chamada de "frio na barriga", o resfriamento do abdome.
Descer dá-nos idéia de inferioridade, de caminhar à própria sepultura. Subir nos lembra a ascensão à felicidade. A ironia nisso tudo está em uma peculiaridade passível de reflexão. Descer é fácil, começar é fácil, ter medos é fácil, apaixonar-se é fácil. Difícil é lutar e caminhar pela íngreme montanha até chegar de volta ao topo, fazendo dar certo...

21 de fevereiro de 2011

Quem (o que) sou?

Sou nada e prefiro assim ser, ou tenho a tola pretensão de ser algo um dia. Sou o puro, instantâneo e perfeito reflexo da escuridão. Impulso simplório, soturno na força, perplexo aos atos e taciturno de fato. "Ínfimo" ego que transparece-se à luz da obviedade, afastando qualquer lapso de sanidade e salubridade de tal personalidade e sempre ofuscando os olhos e o cabelo claro, ou qualquer esboço de beleza física, ou algo semelhante.
Qualquer aparência é mera coincidência. Relapso quanto às diferenças, detalhista e exorbitantemente crítico em relação a suas ações minuciosas, à estapafúrdia personalidade e, sobretudo, à constante defectividade do seu ser, tanto que mal suporta suas demasiadas falhas. Errôneo, fraco, mas resistente. Um ser incógnito e descontextualizado. Boêmio, errante, cheio de vícios, entre eles o de sempre estar certo, causando certa irritação quando tal fato não ocorre. Translocando-o ao plano da auto-penalização.
Só alguém que ama demais, sempre se sente amado de menos, e tem a estúpida pretensão de falar de si mesmo na terceira pessoa...

19 de fevereiro de 2011

Claustro

A verdadeira prisão está em sua mente, liberte-se. O cadeado é feito de preconceitos e a corrente de ouro fixa-se nas arrogantes grades invísiveis do orgulho.
Libertar-se-ão todos, assim que a alimentação e o conforto diminuam, e tal cárcere seja, não mais de interesse do enclausurado, mas um inóspito e insuportável quarto sem janelas.

17 de fevereiro de 2011

Logo notei no horizonte o ar pesado, a fumaça densa. Barracos, cada um com sua antena de televisão a cabo. Às margens de um rio de coliformes fecais um congestionamento quilométrico e a poluição sonora e visual de sempre.
Ah! Nada como o ar da capital para ressecar a mucosa das vias respiratórias, e invadir o pulmão queimando os alvéolos pulmonares. Nada como a desigualdade social e a omissão geral em relação a esta...

14 de fevereiro de 2011

Luto

Reclamo a dificuldade de me achar. Esqueci como é complexo e doloroso perder alguém. Às vezes só é necessário nos perdermos para que o caminho se torne claro.
O valor de alguém não se esvai com a sua perda. A tristeza deve esvair-se em seu tempo e dar lugar à saudade e à conformidade. É assim, ponto. Não há como mudar isso.
Já perdi pessoas importantes para sempre, por certo período, ou só pensei que havia perdido, quando, na verdade, havia ganhado outra chance comigo mesmo. A dor não se modifica, não se explica, só cresce até que faça-se força em seu peito.
Um abraço apertado faz toda a diferença, em épocas onde sua alma sente-se nua, descoberta e semi-morta.
Um amigo faz o possível e até mais para ajudar, mas não adianta. Só o tempo cura.




Em memória a alguém recém falecida, um pedaço de alguém que amo, embora distante a certo período...

Chances...

Um minuto é o tempo suficiente para atos impensados desencadearem uma onda infinita e progressiva de reações aflitivas e desagradáveis. O pensamento é rápido e imbecil, a fala inconsequente e a tentativa de remediar em imediato é vã. Levanta-se, após tropeçar nos próprios pés, golpeando o ar.
Encontrei o ápice da minha infidelidade comigo mesmo. Não havia inspiração. Expirei a fumaça turva que sempre me cega. Soturno ato infestado de vaidade e egoísmo. Óbvio que minto! Agir dessa maneira é complexo e errante demais para alguém que nega a chance de se levantar, mas não quer desistir e entregar-se ao adversário. É preciso ter certeza de seus atos, porém, não extremamente necessário.

9 de fevereiro de 2011

Sobre governos



"Para mim não a dúvidas de que a pior das democracias é sempre preferível à melhor das ditaduras, pelo menos de um ponto de vista educativo. Certo, a democracia - o pretenso governo do povo - é uma mentira, mas a mentira acorrenta sempre um pouco o mentiroso e limita seu bel-prazer. O povo "soberano" é um soberano de teatro, um escravo com uma coroa e um cetro de papelão; mas pensar que se é livre, mesmo que não seja verdade, é sempre melhor do que saber que se é escravo e aceitar a escravidão como uma coisa justa e inevitável."

Errico Malatesta



Nem mesmo a hierarquia sobrevive sem o respeito mútuo, somente a ditadura vigente, ou a democracia oligárquica outorgada e alienista, que entorpecem e deturpam qualquer conceito ou noção popular de ética, moral, cidadania, solidariedade, civilidade e até do próprio respeito, culminando na iminência da amotinização dos desfavorecidos ou na desigualdade social extrema.

8 de fevereiro de 2011

Trecho sobre a dificuldade

Algumas coisas são difíceis de ouvir. A verdade na maioria das vezes dói ou no mínimo traz desconforto. A necessidade de mudança precedendo as falhas na tentativa e a decepção na estagnação.
Vivemos dias difíceis, semanas difíceis, meses difíceis, anos difíceis...
Facilidades me deixam entediado...

7 de fevereiro de 2011

Tudo bem?

- Boa noite.
- Oi, tudo bem? ...
E se eu disser que não? E se eu disser que as constantes sociais e os padrões psicológicos fazem da minha pessoa uma disparidade dentro do infinito grupo imaginário dos complexos? Isso faria o fluxo normal do diálogo engrossar-se. Uma pergunta tola e simples transformaria-se na mais densa, complicada e desagradável resposta ao interlocutor.
A sinceridade tão aclamada pelas pessoas, necessita um certo filtro. Relacionar-se, à primeira estância pelo menos, é um ato desconfiado e incerto. Você sabe suas reais intenções, mas não as revela.
Quanto às respostas, com um certo eufemismo, sempre digo a verdade sobre meu estado de espírito. Se o mascaro, se o torno hiperbólico, eufórico e até irritante, não mudo a essência da minha resposta.
Sobre a sinceridade, mesmo que ela assuste, procuro manter-me sincero, mesmo na iminência da minha autodestruição, ou do surgimento de um problema. No decadente apogeu dos meus 17 anos, mantenho minha consciência indubitável.
Agindo dessa maneira exponho-me da maneira mais infantil e sincera possível...
- Olá, não muito, e você, como foi seu dia? ...

Despedidas...

Tudo entra em colapso, nada faz sentido. Não se trata do exército derrotado, mas do ultimo homem ferido.
Duas pessoas. Sol, chuva, ventos, tempestades. Um barco frágil a naufragar. Um sentimento lindo, duas almas cegas pelo sofrimento não enxergam...
Não tenho pena deste ultimo soldado, ele fez o que pode afinal. Talvez a culpa tenha sido dele. Um descuido, um tropeço. É sabida a tristeza de sua alma. Deseja gritar, mas não pode. Sofre em silêncio. Ele não descansará na morte, pois sempre terá a dúvida. A incerteza o maltrata.
Difícil não é lutar, e sim desistir daquilo que ama, ela diz...
Difícil pra mim é não ter armas, e ter que lutar sozinho. Difícil pra mim é ter que abandonar o campo de batalha não com a derrota, mas com a desistência. Pode-se falar da iminência da derrota. Não sei, posso estar errado, mas julgo fraqueza o egoísta ato de retirar o seu exército por conta das dificuldades dos seus aliados...
Desculpe leitor, este texto não faz sentido algum, e não deve fazer... Por um tempo será meu ultimo. Não sei quando terei vontade de escrever de novo. Não sei quando terei vontade de reagir. Meus ideais se entorpeceram, minhas idéias minguaram e meus sonhos estão em coma.
A verdade é que tomei um golpe forte demais, e eu não estava preparado para ele...
Todo sopro que apaga uma chama
Reacende o que for pra ficar...

Desconhecer-se

Há um passo, somente um, para acreditar na melhora individual. Não se trata de conhecer, de entender, de explorar entranhas inóspitas ou fazer insalubres visitas ao seu eu. Disso tenho certeza!

6 de fevereiro de 2011

About knowledge

Fundas valas escassas e escuras tornam o conhecer um ato eterno e fundado na auto-negação. Rasos rios sem peixes não alimentam nem famintas bocas de famílias ribeirinhas, quem dirá poderá exportar seu excedente ao conforto da vida urbana.
Talvez por isso a noite me encante. A escuridão errante, o desconforto da visão e a linha tênue entre o quase feito e o feito e seus efeitos...
Metáforas de seres que não se permitem.
O gosto pela criação de monstros exóticos e interessantes. A estimada fauna encubada. O florescer das meticulosidades.
O conhecimento é a agradável viagem dos sentidos nas estradas da razão.

5 de fevereiro de 2011

Infinito infinitivo

Viver cercado por um exército sanguinário. Cavalgar em um deserto, sem rumo, sobrevivendo na escassez, exceto por poucos oásis encontrados. Saciar-se em migalhas de pão e gotas de água. O tórrido caminho esfria-se congelando qualquer sopro de esperança.
Ver comparsas entre as dunas esfacelando-se enquanto o cerco cada vez mais se fecha. Fechar-se. Insistir em lutar com a armadura de fraquezas e o elmo, já rachado, da reflexão. Desembainhar a espada da razão para a peleja contra a tristeza.
Notar uma flor despida em meio à batalha. Rastejar, esticar-se até agarrá-la. Levantar-se. Não desistir.
Entender que não há destino, mas sim escolhas. Dificuldades. Nem sempre a estrada é tão clara quanto segura. Nem sempre há companhia em meio às pessoas. Nem sempre há solidão na quietude.
Mesclar sorte à preparo é capacidade. Oportunidade sempre há. Pensar e agir devem coexistir.
Lutar não se trata de vencer. Se trata de ir ao infinito se necessário...

Liberdade

Liberdade é poder correr pelo mar, nadar em plena areia. Caminhar por entre as nuvens. Voar pelos ares infinitos da mente.

3 de fevereiro de 2011

Anjos, demônios e o mercado de peixes

Anjos se embriagam de bar em bar,
Cantam, sofrem, choram a dor do mundo,
Gritam, brigam, recitam vorazes o seu pesar,
Acordam vomitados em um canto escuro.

Enquanto demônios só fazem festejar,
Por séculos enganam, espoliam em sua igreja,
Titãs, gigantes em palafitas afundando a naufragar,
Do pobre, puro e bom o olho mareja.

Enegrece-se então o dia, vindo a tempestade,
A pino a noite turva, escuridão profunda e armada,
Prestes a atirar surge o futuro, na cólera na insanidade,
Desespero, sem esperanças, esperam quase nada.

Nada em tudo, pouco se torna banal,
Muito em mais, nunca, jamais se torna raro,
Mercado injusto de peixes estragados, conservados em sal,
Bacalhau que salmão e salmo fazem caro.

2 de fevereiro de 2011

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Não entendeu?
Ótimo! O ódio não tem sentido mesmo...

Passos

Sons, expressões, murmúrios, sociedades balbuciando. Palavras, falácia, organizações hierárquicas nunca justas. Fenícios, barquinhos (?), escrita, registros. Vovô morreu faz tempo e eu escrevo por intermédio de um teclado, lendo em uma tela de LCD minhas baboseiras. Wolfgang compunha sinfonias desde os 6 anos de idade. Me contento com meus acordes, meus solos em pentatônica e minha voz desafinada acompanhando um grande amigo de madeira. Será mesmo que me contento?
Me perguntei a vida inteira se meus passos eram predestinados, ou se eu tinha controle completo sobre meus atos e minha vida. Sempre cheguei a egoísta conclusão de que eu me dominava. Prepotência talvez, mas eu realmente refletia sobre isso. Aonde a vida estaria me levando? Hoje penso menos em onde vou chegar e mais na maneira como vou até lá.
Os acordes não se formam sem as notas, os textos não se formam sem palavras, vídeos não se formam sem seus frames, os caminhos não se fazem sem os passos. Me cansa a prepotência humana. Sempre fazer coisas maravilhosas, chegar à verdadeiros colossos e finais triunfantes. Desprezar ínfimas partículas é não saber o valor real das grandezas adoradas...

1 de fevereiro de 2011

Luz

Às vezes uma janela se fecha e tudo escurece. Procuramos o interruptor desesperadamente, tateando pelo escuro. Tropeçamos, batemos a cabeça na parede e caímos. Tivéssemos estudado o cômodo e aprendido sobre seus caminhos não sofreríamos tanto com a janela fechada. E se não existir uma lâmpada? E se a luz da janela for a ultima esperança? Correremos para a porta e fugiremos do quarto escuro? Pode ser. Acho que prefiro ficar e aprender como viver no aconchego da escuridão até que outra fresta de luz apareça. Sabe, gosto demais deste quarto...