10 de outubro de 2011

Ironias

Permeado de conclusões arbitrárias.
Sou eu o resto de uma memória frígida descontente?
Consciente da incapacidade sigo frio, forte e temeroso.
Amo. Um amor complexo, ininteligível, e intenso, tenho eu, não pela mulher perfeita ou qualquer outra, nem pela vida que não escolhi viver. Não amo a qualidade estonteante. Não amo a quantidade exorbitante ou a desqualificação da escassez. Não amo amigos. Não amo momentos nem prazeres frágeis.
De fato e enfim não amo nada que não eu mesmo possa amar. Amo, portanto, meu jeito, meus defeitos. Amo a mim e tudo mais que decorre disto.
Sou. Sou nada, então insisto eu em tentar parecer com algo. Uma cópia pirata enraizada na veracidade da razão. Constatações da minha inexistência são cruéis.
Não sou, portanto, não amo...

Céu cinza

Hoje meu céu não tem estrelas...
procurei ao longe e não as vi
Imaginei algumas, até sorri
Manchei as nuvens de preto claro

Busquei, sedento, o calor da lua
O brilho a ofuscar sem mais nem ver
Andar, vagar, devagar divagar pela rua
Sujar-me em rosas sem perfume

Dói o corpo sem razão
Cala a alma o coração
Ferve à mente a ideia rasa
Um castelo frio se torna a casa

Frente aos olhos mais bonitos
Beleza há, mas não enxergue
A flâmula rota ao peito ergue
A meio pau meu hino segue

Hoje meu céu não teve estrelas
espero um dia voltar a ser
Se em minha essência isso há
Em pré-noções prefiro crer

Mecenas modernos

Separa-se a arte como uma vaca de corte...
Hoje ouvi uma música dos Mutantes que tem sua letra em forma de poema concreto. Imaginei cores, flores, um charuto e tambores, e pessoas dançando ao redor de uma bela moça de cabelos castanhos cacheados. Sem fermentos imaginários.
Queria um pouco mais de literatura colorida, uma estátua desenhada, uma guitarra que dançasse e uma dançarina que escrevesse.
O todo da arte misturado em-si, as intersecções tão perdidas quanto a própria coexistência delas. Sectarismo é uma mosca zumbindo nos nossos ouvidos.
Como diria um grande amigo meu: "A arte não é um espelho da realidade, mas sim uma ferramenta para mudá-la." Talvez eu tenha parafraseado erroneamente.
Finda a beleza na separação do inseparável, na racionalização do emocionante, na repetição do inconstante...