28 de dezembro de 2010

O que mantém vivo mata aos poucos

O que mantém vivo mata aos poucos. Uma ironia? Um paradoxo? Uma ironia talvez, um paradoxo com certeza. Há certo tempo, sentia uma solidão mesmo quando cercado de pessoas, o que lhe trazia dúvidas, receios, medos, e uma eufórica alegria ao avistar pessoas de valor estimado.
Via pessoas se divertindo, tentava fazer o mesmo. Tomava um trago, dois, três, abria uma lata de cerveja, fazia uma dose de energético com pouco gelo e muita vodka, sentava-se e embriagava seus sentimentos sórdidos e fatídicos de tristeza, solidão e falta de amor próprio. Sentia certa vontade de morrer. Não entendia a razão de sua infame e desnecessária existência. Contraposto a isto, mostrava alegria sobrenatural quando embriagado e rodeado de “amigos” nos bares e festas. Mulheres, bebidas, música, mulheres, bebidas, cervejas, mulheres, vodka e mulheres até que a noite terminava. Ia para casa com aquele sentimento nostálgico. Deitava em sua cama com roupa da rua, sentia o mundo rodar, não pela embriaguez, mas pela falta de segurança e pelas incertezas de sua alma. Sentia de novo a vontade de morrer, mas virava-se para o lado e dormia, pois amanhã seria um novo dia, até a nova noite, para que mantivesse o seu ciclo... O ciclo o matava, mas o mantinha vivo. Não fossem as doses, a insalubre atitude de não ligar para o mundo a sua volta, as falsas relações amorosas de uma noite, uma semana no máximo, os amigos de bar, o sexo casual e tudo mais, não suportaria sua vida. Não. Havia também outros perigos em longo prazo. Seu fígado e pulmões se degradavam aos poucos pelos seus excessos. Perdera o fôlego, parara então de cuidar do próprio corpo, fazendo o mínimo para que as mulheres não perdessem o interesse.
Começou a perder o interesse por tudo aquilo e notar que seu problema não se resolveria com a fugacidade. Queria encará-lo, mesmo com medo, queria desembainhar sua espada e atacá-lo. No fundo sabia que seria vão. Sua força estava debilitada.
Pediu ajuda, para amigos de verdade, não os da alegria, os amigos de tristeza e de toda hora.
Voltou ao seu problema e faceou-o. Entendeu que poderia vencê-lo. Luta até hoje e não desiste de maneira alguma. Afinal, o que o mata ao mesmo tempo mantém vivo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário