28 de janeiro de 2011

Ela

Topando com o passado encontrei uma centelha de sentimento. Entre papéis voando, a pasta caída e a mesa desarrumada, uma fagulha quase morta de esperança.
Levantei-me da cadeira velha do escritório, de encosto tão torto quanto as minhas costas quando eu saia dela. O quarto escuro me agradava por refletir minha alma. Não era breu de maldade, mas de desconhecimento. Minhas tentativas de entender minha personalidade e meu jeito de ser, esbarravam nas minhas fraquezas e na incapacidade que sempre tive de me criticar sem buscar justificativas para minhas falhas. Quando entendia o problema, não sabia como resolvê-lo, afinal sequer temos noção do tamanho de um quarto escuro se não nos colocamos a explorá-lo.
Eu conhecia a existência de uma fresta de luz. Procurei-a e quando achei, notei que era uma janela. Tentei abri-la, estava trancada. Aquela fagulha de sentimento era a chave, eu sabia disso, mas como? Como uma chama quase apagada pode abrir uma janela e deixar entrar a luz? Procurei lembranças daquele amor em minhas entranhas. Gavetas, armários, montes de papéis. Encontrei um velho computador, já não usado há tempos, onde estavam meus escritos da adolescência até o início da minha vida adulta. Liguei-o e coloquei-me a ler todos os textos mais antigos, referentes, em grande maioria, à fraca chama acesa ao meu lado.
Passaram-se horas quando notei que tinha adormecido sobre o teclado cheio de poeira. Cocei os olhos e não contive um espirro. Foi então que pude notar: A chama havia crescido. Em meio as poeiras e as gotículas do meu espirro escancaradas pela luz, surgiu uma memória. Eu sabia como abrir a janela. Caminhei com a chama crescente até a fresta de luz...
A janela escancarou-se sozinha enquanto eu procurava um meio de violá-la e, com a luz ofuscante que me cegava, veio um sopro, uma brisa agradável e revigorante. Quando pude parar de cerrar meus olhos avistei aquele rosto. A pele macia, os olhos expressivos, o cabelo levemente cacheado e dourado, fazendo inveja à própria luz do sol e a boca pequena e vermelha que eu jamais esqueceria.
Um anjo. Ela era a resposta para tudo. As próprias perguntas eram ela. A unica vela capaz de iluminar meu coração.

10 de janeiro de 2011

O ar que respirava não passava de fumaça densa, escura e morta. Olhava-a brilhando como um anjo. Sucumbia à imagem impecável e monótona daquele rosto sem expressão. Ela era prata, ouro, luz. Ele tomava-se pela tórrida tentação, envergonhando-se.
O coração não mais pulsava. Morto, gélido. Contrapunha-se ao calor do sangue que parecia pressionar seu cérebro para fora do crânio. O calor, a quentura do pecado nefasto e obscuro o aturdia.

Batia-lhe à porta alguma alma. Foi atender, ignorando a outra presença no quarto. Olhou pelo olho mágico de seu apartamento, vendo uma figura conhecida e desgostosa. Martirizou-se na falsidade do sorriso que exibia ao cumprimentar o visitante. Dirigiu-se ao quarto, ignorando a necessidade de sala.
Não mais havia a forma perfeita que ele tanto cobiçava deitada em sua cama. Não mais sentia o sangue quente explodindo o encéfalo. Virou-se ao banheiro, caminhou lentamente, vomitando no caminho e desmaiando em seguida...
Acordou zonzo, sem conseguir respirar direito. Vomitara mais enquanto desacordado. Arrastou–se até o maço de cigarros, acendendo um e levando-o a boca. Levantou o busto, sentando-se encostado à cama. Sabia. Sabia que aquela fumaça o revigorava e no segundo trago pôs-se em pé.
O anjo surpreendeu-se quando achou o vômito e a pessoa mergulhada nele, inconsciente. Deu um risinho sarcástico e caminhou para fora na companhia do visitante.

“Míngua amor na bebedeira,
Assolado, encontra a sua pedreira,
Um trago, um passo à morte,
O sofrimento que apaga a sorte.”

8 de janeiro de 2011

...

Quando fazer o seu melhor não é o suficiente pra você, você melhora. Quando seu melhor não é o suficiente pra ninguém, quando os mais importantes não dão a mínima, ou você senta e chora, ou você faz seu melhor por você de qualquer maneira. Quanto aos mais importantes, exigir demais é não esperar mais de ninguém, até de si mesmo.

1 de janeiro de 2011

Manual.

Posts independentes são lidos independentemente, óbvio. Preciso esclarecer algo que me aflige...
Quem for nas postagens mais antigas, vai ler uma chamada "Rumores". Ela é o início de uma história que termina em "Quem dera" (ainda na página inicial)

O resto é independente, cada post é um post, sem linearidade alguma (ou não).
Obrigado.