Eu conhecia a existência de uma fresta de luz. Procurei-a e quando achei, notei que era uma janela. Tentei abri-la, estava trancada. Aquela fagulha de sentimento era a chave, eu sabia disso, mas como? Como uma chama quase apagada pode abrir uma janela e deixar entrar a luz? Procurei lembranças daquele amor em minhas entranhas. Gavetas, armários, montes de papéis. Encontrei um velho computador, já não usado há tempos, onde estavam meus escritos da adolescência até o início da minha vida adulta. Liguei-o e coloquei-me a ler todos os textos mais antigos, referentes, em grande maioria, à fraca chama acesa ao meu lado.
Passaram-se horas quando notei que tinha adormecido sobre o teclado cheio de poeira. Cocei os olhos e não contive um espirro. Foi então que pude notar: A chama havia crescido. Em meio as poeiras e as gotículas do meu espirro escancaradas pela luz, surgiu uma memória. Eu sabia como abrir a janela. Caminhei com a chama crescente até a fresta de luz...
A janela escancarou-se sozinha enquanto eu procurava um meio de violá-la e, com a luz ofuscante que me cegava, veio um sopro, uma brisa agradável e revigorante. Quando pude parar de cerrar meus olhos avistei aquele rosto. A pele macia, os olhos expressivos, o cabelo levemente cacheado e dourado, fazendo inveja à própria luz do sol e a boca pequena e vermelha que eu jamais esqueceria.
Um anjo. Ela era a resposta para tudo. As próprias perguntas eram ela. A unica vela capaz de iluminar meu coração.