24 de maio de 2012

Ora pois...

É fato. Quando olho e percebo que quero, mesmo que saiba não dever, mesmo que fixe em meu peito a mais profunda estaca por insistir na negação de minha racionalidade, neste frágil aceitar o que vem do corpo, na iminência de romper-se a linha tênue entre meus pensamentos e minha carne, vingando todo aquele reprimir que houve do primeiro sobre a segunda, mesmo acendendo a chama pura do mais gelado ato de consenso entre duas bocas, sei, a cima de tudo isso que quero. E quando quero, como tudo que se faz querer sem ter motivo aparente ou facilmente reconhecível, desejo de forma mais ardente e intensa, de forma mais forte e tempestuosa, e não, não consigo desvencilhar-me, quem dera com primazia, daquilo que me aflige e ao mesmo tempo acalma, atenua e ferve em um fogo vermelho, quente como azul, mas belo como o verde, e tal luz me cega os olhos, além de me confundir o sono com frequência. Sim! Sei que não há possibilidade de aquetamento em tal situação, visto que as garras dos predadores já se riscaram, as presas se mordem vagarosamente, para não dilacerar tão rápido e deixar o prazer maior aos vencedores - ambos os participantes, evidentemente não há derrota - seus ferrões se entrelaçaram de uma maneira irresponsável que só os mesmos conhecem e sabem como respeitar. Sim, também é fato que quando ela olha e percebe que quer, mesmo que saiba não dever, mesmo que fixe em seu próprio peito a mais profunda estaca por insistir na negação de sua racionalidade, neste frágil aceitar o que vem do corpo, na iminência de romper-se a linha tênua entre seus pensamentos e sua carne, vingando todo aquele reprimir que houve do primeiro sobre a segunda, mesmo acendendo a chama pura do mais gelado ato de consenso entre nossas duas bocas, ela sabe, a cima de tudo exatamente o que quer...

3 de janeiro de 2012

Engenharia de vida positiva

Quero a peça que falta no meu universo particular. Quero meu lego colorido todo de uma cor só. Quero que tudo faça sentido. Quero minha alma (que nem tenho certeza se existe) calma e serena. Quero vida após a morte. Quero dinheiro. O que é dinheiro? Ops... Esqueci, a regra é não perguntar! É tudo exato mesmo né? Me engano no conforto do engôdo de um perdão concedido por um ser inexistente, pelos pecados e erros errados, mas pelos que acho ter cometido. Certa vez me contaram que um computador só soma, nunca divide...
E quem subtrai é que está errado?

10 de outubro de 2011

Ironias

Permeado de conclusões arbitrárias.
Sou eu o resto de uma memória frígida descontente?
Consciente da incapacidade sigo frio, forte e temeroso.
Amo. Um amor complexo, ininteligível, e intenso, tenho eu, não pela mulher perfeita ou qualquer outra, nem pela vida que não escolhi viver. Não amo a qualidade estonteante. Não amo a quantidade exorbitante ou a desqualificação da escassez. Não amo amigos. Não amo momentos nem prazeres frágeis.
De fato e enfim não amo nada que não eu mesmo possa amar. Amo, portanto, meu jeito, meus defeitos. Amo a mim e tudo mais que decorre disto.
Sou. Sou nada, então insisto eu em tentar parecer com algo. Uma cópia pirata enraizada na veracidade da razão. Constatações da minha inexistência são cruéis.
Não sou, portanto, não amo...

Céu cinza

Hoje meu céu não tem estrelas...
procurei ao longe e não as vi
Imaginei algumas, até sorri
Manchei as nuvens de preto claro

Busquei, sedento, o calor da lua
O brilho a ofuscar sem mais nem ver
Andar, vagar, devagar divagar pela rua
Sujar-me em rosas sem perfume

Dói o corpo sem razão
Cala a alma o coração
Ferve à mente a ideia rasa
Um castelo frio se torna a casa

Frente aos olhos mais bonitos
Beleza há, mas não enxergue
A flâmula rota ao peito ergue
A meio pau meu hino segue

Hoje meu céu não teve estrelas
espero um dia voltar a ser
Se em minha essência isso há
Em pré-noções prefiro crer

Mecenas modernos

Separa-se a arte como uma vaca de corte...
Hoje ouvi uma música dos Mutantes que tem sua letra em forma de poema concreto. Imaginei cores, flores, um charuto e tambores, e pessoas dançando ao redor de uma bela moça de cabelos castanhos cacheados. Sem fermentos imaginários.
Queria um pouco mais de literatura colorida, uma estátua desenhada, uma guitarra que dançasse e uma dançarina que escrevesse.
O todo da arte misturado em-si, as intersecções tão perdidas quanto a própria coexistência delas. Sectarismo é uma mosca zumbindo nos nossos ouvidos.
Como diria um grande amigo meu: "A arte não é um espelho da realidade, mas sim uma ferramenta para mudá-la." Talvez eu tenha parafraseado erroneamente.
Finda a beleza na separação do inseparável, na racionalização do emocionante, na repetição do inconstante...

21 de julho de 2011

Disarmed me with a smile

Princípios lampejantes de fagulhas intensas
Corroem todo o aço frio da razão
Frágeis tendas, vivendas pretensas
Da chuva protegem o meu quinhão

Sem força, já desfalecido, disparo
Recomponho, me ergo e refaço
Com vagos olhares disfarço
A evidência do que tirou meu amparo

Mergulho em um mar sem fundo
Misturo solidão à tua companhia
Minha espinha se esquenta e esfria
Procuro e me perco, explorando seu mundo

Onde se perdeu meu ciso?
Ao olhar no horizonte o paraíso?
Ao forjar no lucro o prejuízo?
Não! Foi ao perder-me em seu sorriso!

11 de julho de 2011

De volta a mundos paralelos que se interceptam no infinito

De volta a um outro mundo paralelo. Sento em frente a um computador obsoleto, tão empoeirado quanto a escrivaninha que o escora e os livros lidos há tempos. No meu quarto tenho a sensação de cárcere e ao mesmo tempo de liberdade, simplesmente por estar sozinho. Graciliano Ramos, com suas Vidas Secas, enfeita a atmosfera mórbida do lugar, enquanto Um certo Capitão Rodrigo me ajuda a superar a insônia
Leio coisas, tento escrever coisas. Meu violão não está aqui. Muito menos outras companhias agradáveis.
Duas figuras taciturnas e deprimentes põe-se à sala como dois móveis antigos. São alegorias de tudo que mais odeio e desprezo e ao mesmo tempo, me orgulho e amo. A difícil aceitação, resultado da coexistência no mesmo cômodo ou casa, é recíproca, como uma troca de poder, e tal poder faz-se invisível sempre que pode, mantendo sua eficiência. Uma infeliz alocação de comentários gera infinitas discussões. Qualquer tentativa de diálogo exalta o abismo existente entre gerações e sobretudo entre indivíduos e suas vivências.
Saí na calçada, acendi um cigarro. Quase terminado o cigarro, um homem gentil se aproxima, após um casual "bom dia", dito por mim e correspondido por ele. Pergunta minha religião. Após minha resposta, ele pergunta se eu não creio em Deus. Em seguida diz ser músico. Conversamos por aproximadamente vinte minutos e notei o quanto a religião me afastava de uma pessoa que tem vários pontos de convergência comigo. Triste. Nunca tentei convencer ninguém de que Deus não existia, nem de que sua religião fosse uma mera ilusão, um meio de alienação tão eficiente quanto o álcool que consumo.
Relações de autoridade, quase sempre, são tão alienantes quanto uma religião ou a Globo. Você não questiona, porque não aprendeu a questionar, aprendeu a obedecer, isto está enraizado em você. Quando você questiona surge outro problema, A autoridade acomoda-se, dificilmente irá contradizer-se. Logo, usam-se meios torpes de manutenção de tal relação de poder dogmática e assimétrica.
Um soco na boca do estômago. É assim a sensação de notar o poder e não conseguir revertê-lo, amenizá-lo ao menos.
Voltando à má colocação das palavras, minha intransigência fez com que houvesse um desentendimento, uma situação desconfortável, há pouco tempo atrás. A falta de diálogo e a intransigência de outra pessoa em choque com a minha, e obviamente, minha rebeldia em relação a tal concepção de poder irracional e imatura de ambas as partes, fez com que um terceiro indivíduo, o qual eu gostaria de me desculpar pela minha parcela na culpa, acabasse se desentendendo comigo, indivíduo que na acidez de suas palavras conseguiu deixar claro seu sentimento e sua opinião em relação a mim, como de costume.
As amizades se dissolvem no tempo, me fazendo repensar. Os corpos de fundo são raras exceções das quais me orgulho de ainda fazer parte da vida.
Descobri várias coisas saindo de casa. Uma delas foi a não confiar em pessoas que parecem confiáveis, e não desconfiar de todo mundo. Dialético. Aprendi o quão mágico é conhecer e reconhecer pessoas, o quão bonito é respeitar a diversidade humana, e principalmente o quão ridículo são pessoas que não evoluem, mesmo com todos os instrumentos necessários pra isso. Talvez eu esteja caindo no ridículo inúmeras vezes.
Voltar para casa dos meus pais, mesmo que de férias, é notar a existência e a permanência de um mundo diferente do que eu vivo agora, onde eu vivi um dia, onde não quero mais viver, e não faço questão de mudar, pelo simples fato de que quem o habita não faz a mínima questão de que isto aconteça, pelo contrário.
Espero continuar mudando de mundos, para mundos cada vez mais interessantes e inesgotáveis...

1 de abril de 2011

Mais males necessários à minha sobrevivência. Um café, um copo de whisky, um cigarro, a inconstância consumada à cada segundo de expressividade e as explosões irracionais de verbetes junto ao palavrório denso, entristecedor, matuto, mal colocado...
Ao menos sobrevivo e não machuco mais ninguém. Óbvio que posposto ao espancamento moral e à fúnebre colocação de meus atos, o que sobra de mim, ou do outro, não é jamais superado.
É por isso que não mais agrido ninguém. Atuar momentaneamente de maneira insalubre é proteger-se, e proteger os outros de você... 
Desista na insistência alheia...
São males necessários à sobrevivência...

7 de março de 2011

Concluir

De fato concluo, trata-se de um profundo ódio por toda a mediocridade, por tudo que é supérfluo e compreensível, além das constantes decepções e tristezas decorrentes do gosto pelo complexo e pelo inatingível. De certa forma, há também um desprezo muito grande em relação à relações. Uma constante desilusão e desclassificação de si mesmo. A eterna, taciturna e vertiginosa comparação entre não ser e simplesmente estar. Um completo engano para o mundo. Um erro.

4 de março de 2011

26 de fevereiro de 2011

O frio

Sempre tentei entender o motivo pelo qual apaixonar-se muitas vezes acompanha um sentimento físico semelhante ao de descer uma ladeira. A sensação casual chamada de "frio na barriga", o resfriamento do abdome.
O tremer das mãos, o coração disparado, o primeiro beijo, a timidez que esvai-se ao passar do tempo, a vontade de estar por perto...
Qual a razão e o sentido de tal sentimento ter reações físicas extremamente parecidas com o medo, ou a descarga de adrenalina de um susto, por exemplo?
Para mim parece bastante óbvio. Há vulnerabilidade, riscos, inseguranças, incertezas. Comparo apaixonar-se a entrar em uma caverna escura com um palito de fósforo. A cada segmento adentrado, cada passo percorrido na escuridão, encontram-se gravetos que podem, ou não, servir para alimentar o fogo, diminuindo o breu na caverna. Explorar a caverna é algo que poucos corajosos fazem, muitas vezes errando os caminhos por simples e pura inexperiência.
Iluminar. Não há prazer semelhante. As dificuldades se apagam, o frio, o medo e a fome se vão. Ficam, com uma pitada de ironia, algumas lembranças ruins da escuridão, além da chance de contemplar o que era inexplorado até então.
Sempre tentei entender o motivo pelo qual apaixonar-se muitas vezes acompanha um sentimento físico semelhante ao de descer uma ladeira. A sensação casual chamada de "frio na barriga", o resfriamento do abdome.
Descer dá-nos idéia de inferioridade, de caminhar à própria sepultura. Subir nos lembra a ascensão à felicidade. A ironia nisso tudo está em uma peculiaridade passível de reflexão. Descer é fácil, começar é fácil, ter medos é fácil, apaixonar-se é fácil. Difícil é lutar e caminhar pela íngreme montanha até chegar de volta ao topo, fazendo dar certo...

21 de fevereiro de 2011

Quem (o que) sou?

Sou nada e prefiro assim ser, ou tenho a tola pretensão de ser algo um dia. Sou o puro, instantâneo e perfeito reflexo da escuridão. Impulso simplório, soturno na força, perplexo aos atos e taciturno de fato. "Ínfimo" ego que transparece-se à luz da obviedade, afastando qualquer lapso de sanidade e salubridade de tal personalidade e sempre ofuscando os olhos e o cabelo claro, ou qualquer esboço de beleza física, ou algo semelhante.
Qualquer aparência é mera coincidência. Relapso quanto às diferenças, detalhista e exorbitantemente crítico em relação a suas ações minuciosas, à estapafúrdia personalidade e, sobretudo, à constante defectividade do seu ser, tanto que mal suporta suas demasiadas falhas. Errôneo, fraco, mas resistente. Um ser incógnito e descontextualizado. Boêmio, errante, cheio de vícios, entre eles o de sempre estar certo, causando certa irritação quando tal fato não ocorre. Translocando-o ao plano da auto-penalização.
Só alguém que ama demais, sempre se sente amado de menos, e tem a estúpida pretensão de falar de si mesmo na terceira pessoa...

19 de fevereiro de 2011

Claustro

A verdadeira prisão está em sua mente, liberte-se. O cadeado é feito de preconceitos e a corrente de ouro fixa-se nas arrogantes grades invísiveis do orgulho.
Libertar-se-ão todos, assim que a alimentação e o conforto diminuam, e tal cárcere seja, não mais de interesse do enclausurado, mas um inóspito e insuportável quarto sem janelas.

17 de fevereiro de 2011

Logo notei no horizonte o ar pesado, a fumaça densa. Barracos, cada um com sua antena de televisão a cabo. Às margens de um rio de coliformes fecais um congestionamento quilométrico e a poluição sonora e visual de sempre.
Ah! Nada como o ar da capital para ressecar a mucosa das vias respiratórias, e invadir o pulmão queimando os alvéolos pulmonares. Nada como a desigualdade social e a omissão geral em relação a esta...

14 de fevereiro de 2011

Luto

Reclamo a dificuldade de me achar. Esqueci como é complexo e doloroso perder alguém. Às vezes só é necessário nos perdermos para que o caminho se torne claro.
O valor de alguém não se esvai com a sua perda. A tristeza deve esvair-se em seu tempo e dar lugar à saudade e à conformidade. É assim, ponto. Não há como mudar isso.
Já perdi pessoas importantes para sempre, por certo período, ou só pensei que havia perdido, quando, na verdade, havia ganhado outra chance comigo mesmo. A dor não se modifica, não se explica, só cresce até que faça-se força em seu peito.
Um abraço apertado faz toda a diferença, em épocas onde sua alma sente-se nua, descoberta e semi-morta.
Um amigo faz o possível e até mais para ajudar, mas não adianta. Só o tempo cura.




Em memória a alguém recém falecida, um pedaço de alguém que amo, embora distante a certo período...