10 de janeiro de 2011

O ar que respirava não passava de fumaça densa, escura e morta. Olhava-a brilhando como um anjo. Sucumbia à imagem impecável e monótona daquele rosto sem expressão. Ela era prata, ouro, luz. Ele tomava-se pela tórrida tentação, envergonhando-se.
O coração não mais pulsava. Morto, gélido. Contrapunha-se ao calor do sangue que parecia pressionar seu cérebro para fora do crânio. O calor, a quentura do pecado nefasto e obscuro o aturdia.

Batia-lhe à porta alguma alma. Foi atender, ignorando a outra presença no quarto. Olhou pelo olho mágico de seu apartamento, vendo uma figura conhecida e desgostosa. Martirizou-se na falsidade do sorriso que exibia ao cumprimentar o visitante. Dirigiu-se ao quarto, ignorando a necessidade de sala.
Não mais havia a forma perfeita que ele tanto cobiçava deitada em sua cama. Não mais sentia o sangue quente explodindo o encéfalo. Virou-se ao banheiro, caminhou lentamente, vomitando no caminho e desmaiando em seguida...
Acordou zonzo, sem conseguir respirar direito. Vomitara mais enquanto desacordado. Arrastou–se até o maço de cigarros, acendendo um e levando-o a boca. Levantou o busto, sentando-se encostado à cama. Sabia. Sabia que aquela fumaça o revigorava e no segundo trago pôs-se em pé.
O anjo surpreendeu-se quando achou o vômito e a pessoa mergulhada nele, inconsciente. Deu um risinho sarcástico e caminhou para fora na companhia do visitante.

“Míngua amor na bebedeira,
Assolado, encontra a sua pedreira,
Um trago, um passo à morte,
O sofrimento que apaga a sorte.”

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